segunda-feira, junho 19, 2006

O Pastor e a Visitação

Jeremias 23.1-4 fala da importância da visitação a ser feita pelo pastor, e da tragédia decorrente da falta dessa visitação.
Visando o preparo dos pastores para uma visitação eficiente, o currículo de nossos seminários contém uma matéria importante: Teologia Pastoral, além de elementos de Psicologia.
A Constituição da Igreja também dá aos demais oficiais - diáconos e presbíteros - a incumbência de visitar, participando de alguma forma do pastoreio do rebanho. Veja também Atos 20.28.
Será muito conveniente que o pastor também instrua os oficiais da Igreja para tão importante serviço. Fazerem visitas juntos será, certamente, muito bom no aspecto de resultados práticos e de treinamento dos oficiais.
Mas é fora de dúvida que, muitas vezes, convém que o pastor faça sozinho determinadas visitas, pelo cuidado especial que elas demandam, ou pela gravidade dos assuntos e até o sigilo que convenha haver. Nem todos estão devidamente preparados para tratar com os membros das igrejas nessas ocasiões. Uma colocação menos prudente ou uma palavra menos cuidadosa pode causar um transtorno.
Duas coisas serão testadas nessas situações: a capacidade do pastor no encaminhamento de soluções dos problemas, e a confiança dos oficiais no pastor. Estes estarão colaborando com o pastor, como ensina a Constituição da Igreja, fazendo junto com ele a visita, ou deixando-o só, conforme a conveniência, a juízo do próprio pastor, sem negligenciarem o seu dever de visitarem; orando pelo pastor, por todo o seu trabalho e pelo seu aperfeiçoamento operado pelo Espírito Santo.
Sobretudo, todo trabalho deve ser feito com temor e tremor, orientado pelo Espírito Santo, para que não seja feito “relaxadamente”.
Havendo cooperação mútua, humildade tanto do docente como dos que aprendem com ele; havendo, tanto de uns como de outros, real interesse e amor pelo rebanho, o Reino de Deus ganhará muito na realização do ministério da visitação.
Presbíteros, confiem em seu pastor. Pastor, conquiste a confiança de seus irmãos e ovelhas, e colaboradores também.

quarta-feira, junho 07, 2006

Cristãos Nominais

Textos para serem lidos: Tg 1.19-27; Mt 7.21-27; Ez 33.30-33; Gl 5.26-26; Mt 10.6.
Tiago, o irmão de Jesus que, também como seu irmão Judas, se converteu após a ressurreição de Jesus, passou a ter destacada participação na vida e na liderança da Igreja de Jerusalém. Parece ter sido ele o moderador do 1º Concílio, lá reunido (At 15).
Sua visão e compreensão da vida cristã era muito prática. Nota-se isso em toda a sua carta: correção doutrinária e visão prática da fé cristã.
No texto citado acima ele começa a falar da fé cristã como algo que se pratica e não apenas se crê, quando nos v.v. 22 a 25 mostra que o verdadeiro cristão é aquele que aprende com a “palavra” (refere-se às Escrituras) e pratica. Aqueles que a ouvem e não a põem em pratica enganam-se a si mesmos. Compara o “crente” que age dessa forma com a pessoa que se olha no espelho, mas logo se esquece do que viu; porque quando olhamos no espelho vemos o que está errado em nós mesmos: o cabelo desalinhado, a roupa que não está em ordem, etc. As Escrituras são como um espelho, porque ela fala de como temos que ser, e revela-nos o que não temos sido, e portanto precisamos corrigir-nos. Mas se alguém é “ouvinte esquecido”, esquece-se do ensino que o repreende e exorta, e não se corrige. No v. 26 fala de um ponto muito objetivo da vida de alguém: o uso da língua, no falar, completando seu ensino sobre isso no capítulo 2, v.v. 5 e 6. Ser verdadeiro cristão é fazer o que é correto e não simplesmente deixar de fazer o que é errado; o mesmo ensino de Isaías 1.16-17: “cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem”.
No v. 27 Tiago define a fé ou a religião cristã: “... visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo”. “Visitar”, para ele, não é fazer uma visita de cortesia; é visitar para conhecer a necessidade, e ajudar; é “cuidar” como diz o texto da tradução NVI, muito corretamente. Pureza e ação cristã.
Em Mt 7.21-27, Cristo diz que quem entrará no Reino dos Céus não são os que apenas profetizam (ou ensinam), expulsam demônios e fazem maravilhas, e ao mesmo tempo praticam a iniqüidade (v.v. 21 a 23). É o que já acontecia naquele tempo e continua acontecendo hoje, com grande intensidade: pessoas mercadejando a Palavra de Deus, e atraindo multidões com promessas falsas e a prática aparente de curar e expulsar demônios - igrejas que se multiplicam e enriquecem, pregando “um outro evangelho”, parcial e destituído de Ética.
Nos v.v. 24 a 27 Cristo fala daquele que entrará no Reino dos Céus: “aquele que escuta estas minhas palavras e as pratica”, em contraste com “aquele que ouve e não as cumpre...”. A crença apenas teórica, intelectual, que não se transforma em ato, em modo de viver, não é a fé pregada por Cristo. E deixa bem claro: “entrará no Reino dos Céus... aquele que escuta estas minhas palavras e as pratica”.
Em Ez 33.31-33 Deus fala a Ezequiel, o profeta, a respeito do “povo (que) costuma vir, e se assenta diante de ti como meu povo, e ouve as tuas palavras, mas não as põem por obra”, repete no v. 32: “ouvem as tuas palavras, não as põem em prática”.
Em Gl 5.16-26 é Paulo quem exorta: “Vivei no Espírito (ou pelo Espírito) e não cumprireis a cobiça (ou os desejos) da carne” (que é a tendência pecaminosa do homem). Depois fala das “obras da carne”, uma lista negra, do v. 19 até 21: “prostituição, impureza, lascívia (libertinagem), idolatria, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes”. Há aí pecados que se cometem com o corpo, outros que são pecados da mente e outros que são pecados apenas da alma, como a idolatria, as feitiçarias, as heresias. É o ser humano inteiro que tem essa tendência para o pecado.
Depois Paulo passa a contrastá-las com “o fruto do Espírito Santo”, um conjunto de 9 virtudes em um fruto só, isto é, nenhuma dessas virtudes pode faltar no caráter do cristão. Deus nos dá essas virtudes quando nos dá “o dom do Espírito Santo”. No processo de santificação cabe a nós, sempre ajudados pelo Espírito Santo, desenvolvermos cada uma delas, para que o nosso crescimento seja completo e harmônico; para não parecermos aleijões espirituais. O pensamento de Paulo em todo esse texto é, também, que precisa haver coerência entre a profissão de fé e a vida real de um cristão.
No último texto acima citado, Mt 10.6, Cristo faz uma exortação diferente, quanto à evangelização: “Ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Essas ovelhas perdidas eram aqueles israelitas conhecedores das Escrituras, mas não praticantes da verdade, aqueles mesmos referidos nos textos citados de Tiago, Mateus 7, e Ezequiel. É o que podemos entender por “cristãos nominais” - dizem que crêem, dizem que são, mas suas vidas não condizem com o que professam. De modo diferente daquele que nada conhece do Evangelho, precisamos também evangelizar estes e chamá-los, adverti-los para que não estejam no caso dos que (em Mt 7.23) ouvirão de Cristo: “apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade”.
Cristãos nominais são uma triste realidade no mundo e dentro da Igreja.
O Congresso Internacional de Evangelização, em Lausanne em 1974, define como cristão “nominal” aquele que “intitula-se cristão, mas não tem um relacionamento autêntico com Cristo com base na fé pessoal”. Infelizmente são muitos os cristãos nessas condições, e podemos dizer que em todos os setores da Igreja, inclusive oficiais, entre eles pastores também.
Todos acham “muito bonito o Evangelho”, mas sem nenhum resultado prático. Não basta ouvir e gostar e até ensinar e pregar, é preciso praticar - Mt 7.26, 1Jo 4.20: “Quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como amará a Deus, a Quem não viu?”
No início da vida da Igreja Cristã, ser cristão era um risco - a perseguição era real e feroz. Depois a religião cristã tornou-se a do próprio Imperador Constantino; depois passou a ser a religião oficial da Império; então todos queriam ser cristãos; a Igreja secularizou-se, crenças e práticas pagãs introduziram-se nela, como o uso de imagens dos santos, a oração pelos mortos, uso de velas e outros.
Houve, então, reações diversas: o surgimento de ermitões que se isolavam do mundo e da igreja secularizada - o Monasticismo - com a criação de mosteiros de monges que também se isolavam. Houve também a Reforma do Século XVI, com Martinho Lutero, Melanchton, Zwinglio, João Calvino e outros. Antes de Lutero, dezenas de líderes cristãos pregaram o Evangelho puro, bíblico e rejeitaram as inserções espúrias, de origem pagã. Todos esses líderes, como João Huss, Savonarola, Pedro de Bruis, Pedro Valdo e muitos outros foram perseguidos, morrendo alguns nas fogueiras ou nas prisões da “Santa Inquisição”. Eles se batiam contra a adulteração da fé cristã, contra a fé cristã apenas nominal.
O Congresso de Lausanne aponta alguns tipos de cristãos nominais:
l. o que freqüenta a Igreja, sem relacionamento pessoal com Cristo;
2. o que freqüenta, mas por motivos culturais e não espirituais;
3. o que freqüenta, mas só nas festividades e cerimônias especiais;
4. o que não freqüenta a Igreja nem é membro dela, mas se considera cristão verdadeiro.
Não temos condições de ajuizar sobre nenhuma pessoa que se enquadra nesses grupos, mas podemos ajuizar sobre essas posições assumidas diante de Cristo e de Sua Igreja. Há muito na Igreja que precisa ser corrigido; dentro dela, e não fora, podemos trabalhar para que seus defeitos sejam eliminados e ela seja aperfeiçoada.
Cristãos nominais enganam-se a si mesmos e prejudicam a Igreja, quando passam por cristãos sem o serem realmente. Muitos deles gostam de “igrejas de shows, de mercado, de culto em que há uma descarga emocional”. Outros causam escândalos. Falta-lhes compromisso sério e profundo com Deus, sejam eles simplesmente membros de Igrejas ou até “pastores” da mesma linha.
Entretanto, podemos dizer que os “cristãos nominais” são os que se enquadram no texto de Mt 10.6. Eles também são chamados ao arrependimento e à prática real do Evangelho. Não temos o direito de excomungá-los e desprezá-los, mas sim o dever de ir a eles com amor e firmeza na Palavra de Deus.
Para realizar tão delicada missão a Igreja tem que ser autêntica, como o cristão individualmente:
1. na vida de oração;
2. na firmeza doutrinária;
3. na comunhão efetiva entre os irmãos;
4. na sua relevância na sociedade em que esteja inserida(o), sua atuação tem que ser prática, e não romântica;
5. a Igreja tem que ser Igreja saudável, diferente daquelas que tendem para o desequilíbrio e o fanatismo.
Igreja e cristãos assim é que honram o nome de Jesus Cristo e são Seus cooperadores (1Co 3.9).
Cabe, ainda, uma pergunta: de onde têm surgido tais pessoas, os cristãos nominais? É da própria Igreja que eles têm surgido. Cristãos nominais vão gerando outros cristãos nominais. Você, o que tem feito? Tem gerado cristãos ativos, integrais, ou nominais?